Eu-sintoma-angústia
Em um dos seus escritos, Freud escreveu que a repressão transforma um afeto em angústia. E é justamente para se proteger desse desprazer que o Eu se esforça em controlar situações cotidianas a fim de evitá-lo.
Ao longo dos anos, Freud desistiu dessa concepção de que a angústia seria provocada apenas desse modo, a partir de um afeto transformado através da repressão. Isso porque Freud compreendia que não seria apenas a circunstância do encontro cotidiano com um elemento angustiante a condição da angústia, seria, além disso, o próprio Eu a sede da angústia. Como? Aquilo que não pôde ser satisfeito, porque foi reprimido, será acompanhado de uma formação para evitar desprazer, um modo internalizado no Eu, constituindo um modo de funcionamento inconsciente do Eu, um modo de funcionamento com as suas complicações cotidianas, e seu mal-estar.
Esse modo de funcionamento do Eu é sintoma do qual ele aprende a usufruir, uma resolução inconsciente para aliviar um conflito psíquico, afastar-se de um perigo ou de um desprazer com potencial desorganizador. Talvez por isso, quando o Eu se sente (mesmo que seja pura fantasia) falhando em se afastar do perigo, o Eu se desorganize e seja tomado pela angústia como se fosse invadido pela presença, a quase-presença ou a presença imaginada e fantasiada de um elemento angustiante. Mesmo no caso de uma antecipação imaginada desse perigo, o fato é que essa antecipação pode funcionar também enquanto um sintoma do qual se usufrui/o qual é colocado em funcionamento no Eu para efeito de uma proteção contra um perigo. Ou seja, o Eu se tornou aí um sintoma.
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