FORA DE FORMA, O ÚLTIMO RONALDO AINDA ERA O PRIMEIRO
- Paulo Victor Albertoni Lisboa
- 4 de mar. de 2022
- 3 min de leitura
Por PAULO VICTOR ALBERTONI LISBOA com arte de EDU VERENGUEL
ERA ABRIL DE 2010, QUANDO RONALDO, o fenômeno, jogava a sua segunda partida em São José do Rio Preto, interior do Estado de São Paulo. Ninguém sabia se aquela seria a sua última partida pela equipe do Corinthians na cidade. Como eram Corinthians e Ronaldo, a compra de ingressos foi algo infernal.
O Campeonato Paulista de 2010 era um campeonato comum para o torcedor corinthiano. Mas não há nada de comum no comum corinthiano. Rebaixado para a segunda divisão em 2007, campeão da segundona em 2008, o Corinthians garantiu o acesso à primeira divisão e anunciou a contratação do Ronaldo, o fenômeno. E com ele, muito acima do peso, é verdade, o clube venceu o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil, em 2009. Naquela ocasião, o Corinthians havia sido campeão com excelentes atuações de Ronaldo, centroavante da equipe. O fenômeno estava gordo, mas o gordo ainda podia decidir partidas no ano do centenário do clube. Muitos episódios foram marcantes naquela passagem do Ronaldo. Lembro da fala do técnico Mano Menezes: que velocidade, hem gordo?
Nada em 2010 superaria aquelas exibições da chegada de Ronaldo. Com a camisa 9 do time, Ronaldo estava lá de novo. A cada aparição sua, os torcedores cultivavam os rumores de que aquele seria o seu último ano no futebol. Então, se aquele campeonato paulista não prometia excepcionalidade alguma dentro das quatro linhas, o campeonato era possivelmente a última oportunidade na qual uma parcela significativa da população do interior do estado encontraria Ronaldo nos campos de futebol.
Foi um campeonato comum para o corinthiano, mas todo mundo, não importava de que time fosse torcedor, quis um ingresso para ir ver o gordo jogar. No estádio do América, o estádio Teixeirão, lá estavam os diversos varais estendidos nas esquinas, os vendedores das camisas “piratas” da seleção brasileira e do Corinthians, todas com o número 9 estampado. Eram vendidos também adesivos de outros clubes, bandeiras, imagens de cristo e de santos.
Meu pai, meu irmão e eu não demoramos a entrar no estádio. Logo a torcida organizada foi cobrar um rapaz que estava vestindo a camisa do Flamengo. Todo mundo era Ronaldo, mas, ali, o Ronaldo era Corinthians.
Lembro que, no momento em que Ronaldo subiu ao campo, o estádio ficou ensandecido. Com o início da partida, todos nós torcíamos para que Ronaldo recebesse todos os passes. A torcida gritava “uhhhh” quando o passe errava os pés do Ronaldo. Vê-lo em ação era como um gol, errar o passe era bola na trave. Parte da torcida gritava, timidamente, “gordô, gordô...”. Alguém aí se lembra de que Roberto Carlos também estava jogando?
Ronaldo mal corria em campo, a equipe dobrava a corrida por ele. Muitas vezes, Ronaldo ficava parado no meio do campo e até apoiava os braços na cintura. Certamente, o zagueiro adversário foi instruído a não perder o gordo de vista. A verdade é que qualquer um que estivesse ali no estádio duvidava um pouco de Ronaldo. Talvez o zagueiro também duvidasse um pouco de Ronaldo.
Jucilei fez o primeiro gol com a participação do Ronaldo que encontrou um passe pelo alto na grande área. Mais à frente, Tcheco se aproveitou do erro do zagueiro adversário e tocou para Ronaldo finalizar e marcar o gol. Muita festa. O Corinthians venceu o Ituano por 2 a 0.
Na saída do estádio, quase não sobravam camisas nos varais. Muita gente indo embora a pé para casa. Meu pai, meu irmão e eu também voltávamos a pé e falávamos sobre o gordo artilheiro que, mesmo depois de tantas lesões seríssimas e sem a performance de atleta, ainda era um dos melhores. Não canso de me surpreender ao lembrar dessa conversa.
Se eu não estiver enganado, Ronaldo se aposentou apenas no ano seguinte. O Corinthians que, anos antes havia sido rebaixado, deu a Ronaldo um lugar para ser campeão fora de forma.
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