GUIA FABULATÓRIO NO.5: ENTARDECER O DESPERTADOR
- Paulo Victor Albertoni Lisboa
- 4 de mar. de 2022
- 1 min de leitura
Por PAULO VICTOR ALBERTONI LISBOA com arte de MARCIA CYMBALISTA
AMANHECER SEM PALAVRAS. Percorrer os movimentos minerais do sono montanhoso e descer uma cachoeira dos ouvidos aquáticos, pegar carona num vento longínquo.
Levantar um braço na proporção vegetal, na velocidade arbórea de um brotamento-espreguiçadeira de galhos e folhagens ao alto, engrunhando os dedos do pé como raízes. Viver a secularização do sono e ser chamado disruptivamente pelo despertador. Deparar-se com o chamado a quem já estava acordado em desacordo com o relógio.
Sentir uma crise identitária com o despertador, testemunhar um levante geomórfico de irrupção ctônica contra o consumo capitalístico das suas forças psíquicas. Agendar um ato. Desagendar o ato. Descalendarizar o ano. Planejar não planejar.
Desestabelecer estratégias passo-a-passo pelas assembleias públicas de filiação aos coletivos e dar-se conta da necessidade de incoletivizar com outras espécies animais. Discutir, em praça pública, a linguagem do levante. Levantar a linguagem da discussão. Reunir e dispersar. Então, convocar os pombos aos palanques, fazer caminhos de açúcar para as formigas subirem ao carro de som, seguir em ato os passos de um cachorro abandonado, auscultar os pensamentos das árvores e transmiti-los em radiofone.
Emaranhar-se com as correrias formigueiras, o andar disfarçado dos pombos, a espreita canina, convocar uma conversa franca e ninguém conversar uma só palavra e fazer, mesmo assim, apontamentos e sinais para o levante até que, imprevisivelmente, alguém assovia alto e fora dali. E tudo para. Olhos e ouvidos procuram o desertor dos fluxos. O tempo para e retoma seu fluxo depois de alguns segundos. Acalmar os pombos.
Voltar assoviando para a casa.
Continua:
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