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NA ESTRADA DO CURUCUTU

  • Foto do escritor: Paulo Victor Albertoni Lisboa
    Paulo Victor Albertoni Lisboa
  • 4 de mar. de 2022
  • 2 min de leitura

Por PAULO VICTOR ALBERTONI LISBOA com arte de MARCIA CYMBALISTA


JÁ PERDI A CONTA DO NÚMERO DE VEZES que cheguei aqui nesta estrada. Ainda teimo em chegar a pé e tarde da noite, contrariando as orientações de meus amigos. A essa hora, dificilmente alguém irá passar por esta estrada de terra com um carro ou uma moto e oferecer uma carona até a aldeia Krukutu.

Desta vez, pelo menos não está chovendo. O manuseio de um guarda-chuva ou o uso de uma capa de chuva nunca protege totalmente a parafernália. A chuva me obrigaria a fazer uma pausa ou duas pausas ao longo do caminho. Quase sempre, carrego comigo uma sacola de feira em cada mão, além de uma mochila simples acoplada a uma mochila cargueira. Por fim, transversal ao peito, uma bolsa dessas de pescaria.

As sacolas estão carregadas de comida, um pouco de café, farinha, arroz, feijão, macarrão, molhos de tomate e enlatados diversos, e não pode faltar, o mate e o fumo de corda. Ao longo dos anos, aprendi a carregar na bolsa um cachimbo, palha, fumo e um canivete afiado para picar fumo, pelo menos um pouco de mate em separado e, se possível, uma cabaça e uma bomba para servi-lo, sem o que não seria possível fazer pesquisa de campo entre os Guarani. Nas sacolas, há sempre espaço para um ou outro pedido particular. Estão comigo uma peça de queijo minas, uns conjuntos de pilhas, roupas para um recém-nascido.

Com a lanterna iluminando o caminho, retiro o celular do bolso e vejo que está sem sinal. Começa a chover um pouco e preciso ficar alerta com a capacidade impermeável da mochila cargueira. Além das roupas e itens de higiene pessoal, levo comigo um gravador, uma máquina fotográfica, um laptop, um colchonete e, é claro, uma barraca. Às vezes, levo comigo um martelo, uma faca ou outra ferramenta útil para amarrações e cortes. É assim desta vez.

A vantagem de percorrer esta estrada no inverno é ter opção por uma jaqueta e uma calça com muitos bolsos. A documentação de autorização do Ministério da Justiça e da Fundação Nacional do Índio estão na jaqueta nos bolsos do peito. A carta de autorização das lideranças da aldeia Krukutu está no bolso lateral da calça, na parte externa da perna esquerda. Na perna direita, carrego uma gaita, duas ou três canetas e um pequeno caderno de anotações. Na altura da cintura, estão o celular, outros documentos e cartões. O coturno está amarrado por cima da calça. Se não visto um gorro ou um boné, é porque estão amarrados ao lado externo da mochila. Com o boné vestido, levo amarrada uma sacola com um pote que contém várias fatias de bolo que minha esposa e eu fizemos no último fim de semana.

Vejo acima na estrada um feixe de luz próximo à curva. Alguém está vindo em minha direção. Faço um sinal com a lanterna. A pessoa responde com outro sinal de luz.

Alguns minutos de caminhada confirmam a minha impressão. Era Werá Mirim, filho de Olívio Jekupé e Maria Kerexu. Era tarde, então mandaram o filho à estrada.


Continua:

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