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Paulo Victor Albertoni Lisboa

O EMPUXO DAS SOMBRAS

Daquelas perdas objetais que incidem sobre o Eu, há perdas que participam da dissociação de partes de um Eu que anteriormente foram ativadas numa relação objetal.

Determinados abalos-sísmicos na relação de objeto podem ser direcionados contra o Eu. Embora sejam experiências da perda de objeto, o peso da perda poderá marcar uma relação, um peso marcador de uma relação típica. Essas relações típicas podem tipificar também uma busca de objeto, tais como as buscas melancólicas.

Em “Luto e Melancolia” (1917/1915), Freud aventa a possibilidade da melancolia se transformar em mania, inclusive, aventa a alternância entre fases melancólicas e maníacas, próprias de “loucuras cíclicas”; lembra que a mania e a melancolia não têm conteúdos diferentes, mas divergem no Eu triunfal ou sucumbido que participam na relação de objetos.

Embora o Eu-mania possa “triunfar” diante de objetos, Freud descreve a grande quantidade de energia que a sua sustentação requer. A embriaguez e outras maneiras de suspender o dispêndio libidinal com a repressão podem fabricar estados de alegria e desinibição, porém, sempre que o montante de energia contrainvestido está disponível, abre-se um campo de indeterminação que repõe a perda de objeto subtraída à consciência.

Em resumo, e sempre com as minhas palavras, é como se o melancólico tivesse um Eu inibido, e o maníaco, um Eu desinibido. Divergem também quanto ao delírio que produzem, o delírio degradante e o delírio do júbilo. Os dois requerem um alto dispêndio de energia, não raras vezes o Eu – melancólico e/ou maníaco – descansará, então, ébrio ou intoxicado.

Freud lembra ainda de um outro efeito da perda de objeto. Há ocasiões nas quais o Eu – mais precisamente, uma parte do próprio Eu ativada na relação objetal – é identificada com o objeto perdido/abandonado. Assim, a sombra desse objeto cai sobre uma parte do próprio Eu, vinculada ao objeto perdido/abandonado. Como se o objeto perdido/abandonado carregasse consigo a parte de um Eu ativada naquela relação. Sempre que a relação típica é reativada, esse mundo objetal e sua sombra recoloca as afecções tanto da reativação melancólica de partes de um Eu que emergem com as sombras do objeto quanto da reativação miraculosa que a busca faminta por objetos reverbera nas sombras. Por meio dos delírios e dos devaneios, talvez os melancólicos e suas manias – e os melanconíacos – tentem se livrar do sofrimento produzido pelo empuxo da fuga dos objetos.




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