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O MAGO VERMELHO

  • Foto do escritor: Paulo Victor Albertoni Lisboa
    Paulo Victor Albertoni Lisboa
  • 4 de mar. de 2022
  • 3 min de leitura

Por PAULO VICTOR ALBERTONI LISBOA com arte de DANI SHIROZONO


LEMBRO DE, AINDA MUITO NOVO, CONSIDERAR A FESTA DE NATAL um pouco confusa no seu enredo. É claro que tal confusão tinha a ver com a simbologia encontrada nas festas de minha família. Quando a festa ocorria na casa de minha avó materna, na sala ficava disposto, em cima da mesa de canto, um pinheiro de plástico com algumas folhas pintadas de branco simulando a neve, com estrelas de plástico que pareciam de vidro, e todos aqueles ornamentos dos mais variados, incluindo aquelas guirlandas e serpentinas que, sabe-se lá bem o porquê, são denominadas “festão” em algumas lojas. Abaixo da árvore de plástico encontrava-se um presépio. Do lado do presépio, em proporção adequada e ajustada ao seu enredo, um Papai Noel.

Depois de alguns anos, fiquei com a impressão de que minha avó havia associado a generosidade dos reis magos à generosidade do Noel. Fiquei me perguntando, então, se ela por acaso pensou ser Noel um rei mago viciado em dar presentes para criancinhas depois de ter passado um natal ao lado do Jesus no estábulo.

A presença do Noel junto ao enredo do presépio reunia ainda uma profusão de hipóteses. Será que o bom velhinho figurava o pai de José e o vô de Jesus ficou obcecado com que não faltassem presentes a ninguém no mundo?

Ou será o Noel o pai do filho do Espírito Santo de que se fala tanto em oração? Ou Noel era pai de Maria que, de tanto estar cheia de graça, foi ter notícias suas e o velho levou consigo trouxas de roupas para uma longa estadia junto da sua filha e de repente natal?

Nada explicava o Noel voador, quer dizer, o “bom velhinho” transportado por animais voadores que não possuíam asas – parte de sua simbologia ausente na cena do presépio em família. Quem sabe, então, Noel ainda não tinha poderes e era apenas um figurão naquela noite quando recebeu poderes mágicos dos reis que, afinal, eram magos. Teriam os magos emprestado uns animais do estábulo ao homem para que voasse com a missão de dar presentes? Se qualquer detalhe dessa história maluca fizesse sentido, Noel havia de ser assunto dos religiosos.

Porque, como se sabe, o tal do Jesus andava sobre as águas, transformava água em vinho, curava os doentes. Aprendi na catequese as suas proezas típicas de mago e que ele tinha também um jeito para brigar em público, até mesmo nos templos, o que a catequista não intuiu ser um ensejo delinquente para as crianças.

Não devia ser gratuita a semelhança dos nomes de Noel e Noé. Pronto! Noé da arca, o sujeito da brigada ecológica do dilúvio. Talvez a manjedoura e o estábulo estivessem dentro daquele navio zoológico; de onde derivaram as criaturas da arca, seres mitológicos como as renas levitantes; quais criaturas podiam estar contidas no trenó encantado, nas suas viagens de tobogã estelar? De todo modo, se fosse um Noé, só podia ter feito uma viagem para o futuro com a sua máquina de viajar no tempo.

Fosse quem fosse o Noel, a árvore e o presépio natalino funcionavam como um lugar para acomodar os presentes, sempre dispostos abaixo do presépio.

Ao longo da noite de Natal, os meus primos, meu irmão e eu formávamos uma impressão sobre os presentes da ocasião. Tivemos uma fase na qual queríamos muito os presentes eletrônicos e tentávamos descobri-los antes de sermos presenteados. Detestávamos recebê-los sem pilhas na noite de Natal.

Houve um ano no qual eu ganhei uma metralhadora que emitia sons de alarme e de tiroteios, tudo isso acompanhado de luzes de sirene que piscavam alternadamente.


Continua:

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