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RELÓGIOS E VENTILADORES CÓSMICOS

  • Foto do escritor: Paulo Victor Albertoni Lisboa
    Paulo Victor Albertoni Lisboa
  • 4 de mar. de 2022
  • 2 min de leitura

Por PAULO VICTOR ALBERTONI LISBOA com arte de MARCIA CYMBALISTA


NA DÉCADA DE 40 DO SÉCULO PASSADO, um grupo de cientistas atômicos criaram um “relógio do fim do mundo”. O propósito daquele grupo de cientistas era indicar o risco iminente de um conflito nuclear, a partir das tensões entre os países, especialmente Estados Unidos da América e União Soviética.

O “relógio do fim do mundo” é um nome sugestivo para um relógio que permanece parado à espera da meia-noite. Pois, quanto maior o perigo, os cientistas atômicos movem os ponteiros para mais perto da meia-noite, a hora do fim do mundo. Se a diplomacia prospera, os ponteiros são atrasados.

É claro, então, que, desde o fim da Segunda Guerra, o relógio flutuou nas redondezas da meia-noite, porque os ponteiros foram e ainda são movidos em decorrência da política internacional. O curioso é que, embora os ponteiros tenham sido atrasados e adiantados diversas vezes, o relógio continuou parado na espera obstinada da catástrofe, o relógio como máquina cataclísmica. Onde foram parar as máquinas de calcular cosmogêneses?

Lembro dos relógios derretidos de Salvador Dalí, quando provavelmente o artista esteve influenciado pela teoria da relatividade. Afinal, não há algo de estarrecedor na afirmação de que o tempo do centro da Terra seja diferente do tempo da crosta terrestre? Ou, ainda mais, que um relógio geoestacionário registre uma diferença de tempo se comparado a um relógio viajando na velocidade da luz? Essa história de gravidade e dilatação do tempo é realmente de derreter relógios. Que horas são? É melhor ajustarmos os nossos relógios.

Lembro que havia um relógio parado na casa de meus avós paternos. Era um ambiente aberto ao exterior da casa, situado entre a sala e a cozinha, onde nos reuníamos ao redor de uma grande mesa, quase sempre ao som de modas de viola tocadas num rádio velho. O relógio parado estava no alto da parede, tenho a impressão de que estava lá perto de uma samambaia e uma imagem/quadro da equipe do Corinthians, talvez a equipe campeã do campeonato brasileiro de 1990 ou de 1998.

Minha avó é trabalhadora rural aposentada. Meu pai conta que a ajudava no trabalho e a acompanhava nas plantações de algodão. Não podiam perder hora, jamais perder o caminhão que os esperava na estrada. No algodão, ali, se pudessem, adiantavam a hora, corriam com os ponteiros do relógio para adiantar o dia de trabalho e voltar para a casa. Há, então, um certo brilho na lembrança do relógio parado lá onde o mundo podia acabar em ponteio de viola.

É bem provável que os cientistas atômicos ignorem tais problemas da relatividade do tempo e da contração do espaço na história e na cultura. Porque, na melhor das hipóteses, na perspectiva de um relógio agônico, atrasa-se o fim de tudo. Com isso, no relógio atômico não é admitido o imponderável da gênese de tudo.

Acontece que até o mais atômico dos cientistas sabe fazer pedidos no ano novo.


Continua:

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